Análise de peças III
- Fernanda Joppert
- 10 de jun. de 2018
- 2 min de leitura
Peça "Esqueci o não em casa", da marca Skol.
A próxima peça a ser analisada é um anúncio denominado Esqueci o Não em Casa, da marca Skol, veiculada no carnaval de 2015.
Depois da repercussão negativa, a campanha foi tirada totalmente de circulação, inclusive não sendo encontrado o seu arquivo na internet. Única forma de apresentar a peça, foi a utilização dessa foto tirada de um mobiliário urbano quando ainda estava em circulação. A campanha conta ainda com cartazes com os dizeres "Topo antes de saber a pergunta”

De maneira denotativa, a peça all type traz as cores da marca (amarelo, vermelho), o fundo apresenta elementos de carnaval como confetes flutuando e próximo ao slogan, uma espécie de botão.
Através da comunicação não verbal, são vistos os elementos: confetes de carnaval, cores quentes, remetem a verão, carnaval e alegria.
A comunicação verbal traz o título “esqueci o não em casa”, o slogan da campanha “viva redondo” e um botão escrito “on”.
Essa peça teve muita repercussão na mídia e nas redes sociais por esse título. O carnaval é um período em que o assédio sexual em mulheres aumenta drasticamente pelo falso sentimento de que tudo pode. Segundo Miranda e Aun (2017), as denúncias de violência contra a mulher no Carnaval em 2016 cresceram 174% em comparação ao mesmo período do ano anterior. As informações foram divulgadas pelo Ligue 180, a Central de Atendimento à Mulher em Situação de Violência. Do número total de denúncias de violência deste ano, 59,89% corresponderam a violência física; 33,27%, a violência psicológica; 8,79%, a cárcere privado; 8,38%, a violência moral; 3,9%, a violência sexual; 2,67%, violência patrimonial e 0,09% a tráfico de pessoas.
Em tempos que se bate muito na tecla do “Não é não”, fazer uma campanha que inspire a deixar o ‘não’ em casa é um grande desserviço à sociedade e às causas feministas que tanto lutam para conquistar o seu lugar. Deixar o não em casa insinua que a mulher tem obrigação de fazer o que o homem propor a ela, sem questionamentos, sem a opção de negar, fazendo a apologia à cultura do estupro, ao desrespeito ao público feminino de uma forma geral. Isso é mais um caso de objetificação da mulher.
Além dessa interpretação, outras podem ser feitas como o uso desenfreado de álcool ou outras substâncias.
O público que essa campanha pretende atingir é principalmente homens jovens que estão querendo aproveitar o período do carnaval. O título não faz menção a homens ou mulheres, mas devido à história de repressão e abuso que as mulheres viveram e vivem até os dias de hoje, ao ler esse anúncio, não se identificam como público-alvo da campanha. Mulheres se veem na posição de dominadas.
Em tempos de militância nas redes sociais, me impressiona que uma campanha dessas tenha passado por tanta gente sem que o problema tenha sido identificado. Preocupante!